segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Trajetória política do movimento negro brasileiro desde o início do século XX
 Edir Marli Foeger
O surgimento das formas de organização e mobilização dos movimentos do século XX promoveu a atuação antirracistas, fazendo com que os negros enfrentassem publicamente o preconceito que os impediam viver seus direitos sociais e civis, principalmente contra o racismo existente das ideias do passado que se constituiu com o fim da escravidão, onde negros/as foram excluídos/as do mercado de trabalho e de outros espaços públicos. Este fato motivou os/as afro-brasileiros/as a construírem espaços próprios de sociabilidade, na qual pudessem frequentar sem que sofressem preconceito racial.
O Movimento Negro constitui-se pela luta dos afrodescendentes para resolver situações de preconceitos e discriminações raciais que os marginalizam no meio social, no mercado de trabalho, no sistema educacional e nos meios político e cultural.
Os jornais negros foram um estímulo nesse processo para os/as afro-brasileiros assumindo de forma crítica os preconceitos praticados na sociedade.
Em São Paulo o associativismo desencadeou a Frente Negra Brasileira (1931- 1937) contra a política antirracista, este se estendeu para outras regiões. Lideres e intelectuais desses movimentos eram chamados de elites negras. Essas organizações tinham como objetivo
garantir  a proteção  social  àqueles /as  que estavam visivelmente desamparados /as,  uma   vez  que  o Estado ainda não dispunha de  sistema amplo,  universal  e  capaz  de atender  a  todos /as   cidadãos/ãs (MOD. 03_UNID. 04, texto 01, p.175).
As mulheres negras nesse processo se destacavam pela sua formação educacional. O sociólogo Florestan Fernandes afirmou que “o movimento negro brasileiro modernizava os valores da sociedade, pois visava a transformações de caráter eminentemente democrático.” Vale lembrar que tais experiências políticas dos movimentos negros ocorreram em períodos democráticos. Pois o movimento acabou sendo desarticulada durante a vigência do Estado Novo, com regime político da Ditadura Militar.
Os regimes políticos significativos contra o racismo do período foram: a União dos Homens de Cor (UHC) e do Teatro Experimental do Negro (TEN). Ambas tinham o objetivo de dar visibilidade para a temática do preconceito racial, na valorização da identidade negra, no reconhecimento do ser negro/a brasileiro/a, visando sua inserção na comunidade política e econômica do país.
A nova mobilização antirracista veio a ter visibilidade pública com o novo contexto de democratização do país. Nas duas primeiras fases, a maior parte do movimento negro manteve-se afastado das formas tradicionais de organização das classes sociais.
Os/as intelectuais e ativistas dos movimentos negros/as inspiravam-se nas teorias marxista e dos movimentos negros norte-americanos e dos negros/as africanos/as, porém não se copiava as ações, adequava se a realidade do Brasil.
Na terceira fase, entretanto, boa parte do movimento negro se aproxima dos partidos e dos sindicatos, procurando estabelecer um liame nas ações de natureza classista e anti-racista.
O sociólogo Hasenbalg evidencia a existência de mecanismos discriminatórios, que prejudicam a mobilidade dos grupos de cor/raça do Brasil. O estudo trouxe a sustentação da luta antirracista no país, sendo que o movimento negro encontrava e encontra nelas bases argumentativas para seus discursos e ações, num contexto discriminatório entre indivíduos e grupos.
A atitude e a determinação das mulheres negras nos movimentos provocaram o rompimento da dominação masculina, pois até então havia a presença significativa das mulheres no movimento negro, mas muitas vezes limitava-se aos bastidores, “elas encontravam grandes empecilhos para ocupar as posições de dirigentes nas organizações políticas negras.”
As mulheres negras intelectuais se destacaram pelas reflexões das consequências do racismo sobre os negros dentre elas Beatriz Nascimento (1942-1995) e Lélia Gonzalez (1945-1994).
A historiadora Beatriz do Nascimento destaca o negro como participante da construção histórico-social e aponta os problemas gerados pela escravidão enfrentados pelo/a negro/a ao reconstituir sua identidade. Para ela as mulheres negras sofriam tanto pelo racismo devido pertencer a um grupo discriminado, como também pelo patriarcalismo, tais questões perpetuam sua subordinação na hierarquia social constituída ao longo do tempo.
Lélia Gonzalez buscava refletir e atuar em organizações coletivas com temáticas raciais.
Para Gonzalez tanto negros como brancos pobres sofrem pelo capitalismo.  Porém o negro sofre discriminações e preconceito racial gerando a hierarquização na estrutura social. Também destaca que é preciso mudar o pensamento social difundido em todas as classes, retirando os sujeitos femininos negros das posições inferiores. Constata-se que entre as classes sociais exista a exploração econômica, opressão política e dominação cultural que resulta na desigualdade econômica, no privilégio político e da discriminação cultural, respectivamente.
O primeiro movimento organizado de mulheres estava ligado ao movimento negro e feminista contra a ditadura. Com o objetivo de adquirir visibilidade, agenda própria e lutar contra a discriminação racista.
Um dos conflitos mais marcantes para a organização das mulheres negras como entidades autônomas ocorreu na ocasião da formação do Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo que, em 1984, se constituiu sem ter nenhuma mulher negra como integrante. Essa ausência de representação negra em espaços destinados à participação, fez com que se sentisse a necessidade de maior articulação política para sustentar as lutas das mulheres negras. 
Este processo proporcionou conquistas para as mulheres tanto no Conselho Estadual, quanto no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, criado anos mais tarde, em 1988.
As conquistas feministas beneficiavam as mulheres indiscriminadamente, por outro, o movimento de mulheres negras via a necessidade de manter seu questionamento sobre a pertinência de focalizar políticas para suas demandas específicas, a questão do racismo que se caracteriza em sua dominação e exploração potencializando os efeitos negativos para as mulheres negras.
O enfrentamento da militância negra junto ao Conselho da Condição Feminina foi fator decisivo para o fortalecimento e maior articulação das mulheres negras, surgindo outras redes de articulação de ativismo político, como o “I encontro Estadual de Mulheres Negras”, em São Paulo, no ano de 1984 e após quatro anos o “I Encontro Nacional de Mulheres Negras”, ampliando e fortalecendo a construção de coletivos em outras regiões do Brasil. Os debates referentes ao temas e demandas do movimento de mulheres negras foram ampliando-se à medida que o ativismo ganhava mais fôlego e experiência na ação coletiva.
A importância do movimento de mulheres negras trouxe impactos na sociedade suas experiências e ações habilitaram esse ativismo a desenvolver intervenções propositivas em diferentes instâncias.
Uma das principais reivindicações dos movimentos era o direito da cidadania. O movimento negro não reivindicava apenas a dimensão material e sim o patrimônio cultural. Busca-se o reconhecimento das diferenças a sua identidade social para que ela se sinta em condições de lutar pela sua dignidade na emancipação individual e coletiva.
O movimento negro contemporâneo cresceu, diversificou suas formas de ação transformando-se e obtendo várias conquistas. 
A constituição de 1988 foi o ponto crucial para o ativismo negro em suas ações de implementação de políticas públicas.
O I Encontro Nacional de Entidades Negras ocorreu na cidade de São Paulo, em 1991, devido à necessidade do fortalecimento negro, esse encontro trouxe a ascensão do movimento negro perante a sociedade e o estado.
Assim a busca do movimento negro é a universalização dos direitos, de acordo com os estudos do módulo 03 é a construção de uma imagem negra sem os estereótipos característicos do senso comum nacional, a valorização de práticas e saberes de comunidades negras tradicionais, o direito a terra aos descendentes de escravizados/as, além de educação diferenciada, voltada para o enfrentamento do racismo contra esses grupos.
Na década de 1990 fundou o órgão Fundação Palmares que tinha o objetivo atender demandas do movimento negro ligado a cultura. Em 1995, ocorreu a Marcha de 1995 que tinha como proposta ao Estado o enfrentamento das desigualdades raciais, para tanto deveria ter a destinação de verbas específicas para lidar com essa demanda. O resultado da Marcha foi o decreto presidencial que criava um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) com objetivo de promover políticas para “a valorização da população negra”. Em 1996, foi proposto Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH I), onde o governo assume o compromisso de realizar estratégias de combate às desigualdades raciais por meio de políticas direcionadas para a população negra.
Após a conferência de Durban e na gestão do Presidente Luís Inácio Lula da Silva destacadas duas ações importantes para todo o território nacional.
A primeira é a promulgação da Lei 10639/2003, que institui o Ensino de História e Cultura da África e dos/as Afro-brasileiros/as em todos os estabelecimentos de ensino do país.
A segunda ação foi a criação da Secretaria Especial Para Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), em 2003, com a proposta de envolver os ministérios e os demais órgãos do poder executivo para garantir a transversalidade das políticas de combate ao racismo.
Reconhece-se que a igualdade é importante para o desenvolvimento da sociedade. Nas últimas décadas várias mudanças significativas ocorreram na sociedade, negros adquiriram maiores níveis da educação e de participação no mercado de trabalho.
Constata-se que os movimentos surgiram em torno do racismo existente na sociedade, se constituindo de diferentes formas ao longo da história, dessa maneira tem contribuído de maneira visível para as conquistas dos direitos dos negros, porém faltam muitos esforços de diferentes setores da sociedade para a democracia de todos os espaços.


Referência:
Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: módulo I / Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andreia Barreto. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 20

Escola de Domingos Martins comemora o Dia da Consciência Negra

Matéria do site Montanhas Capixabas
publicada em 18/11/2011

                                           Foto: Roberly Pereira

Apresentações de sambas e pagodes por um grupo musical formado por estudantes, painéis fotográficos e cartazes com frases de efeito, oficina, danças, exposição artística e trabalhos ilustrativos diversos. Assim foi comemorado o “Dia Nacional da Consciência Negra” na sede de Domingos Martins.

O Dia da Consciência Negra é celebrado no dia 20 de novembro. Por ser domingo, a diretoria da Escola Teófilo Paulino adiantou a comemoração para esta sexta-feira (18). Todo o efetivo estudantil – 983 alunos matriculados nos três turnos – da instituição participou das ações sob clima fraterno.


De acordo com a diretora Delfina Schneider Stein, uma das principais ações do dia comemorado é o Desfile Beleza Negra, que teve a participação de 18 alunos e alunas do educandário. “Realizamos este projeto com muita humildade, mas com os conhecimentos dos nossos professores de história e geografia, baseados em pesquisas”, afirmou a diretora.


Segundo a coordenadora Fernanda Reinholtz, o trabalho foi preparado durante a semana com o apoio de pelo menos dez profissionais da instituição. Segundo Fernanda, um dos destaques do evento em homenagem à cultura africana é a Exposição Artística.

Fernanda ressaltou que com a realização deste projeto, a Escola Teófilo Paulino, de Domingos Martins, cumpre a Lei 10.639 de 2003, que institui estudos escolares da história afro-brasileira. “Além do prazer que um dia como este nos proporciona, estamos obedecendo à uma legislação”, disse.

Fonte: Disponível em <http://www.montanhascapixabas.com.br>. Acesso em 12/12/2011. Matéria de 18/11/2011.

domingo, 11 de dezembro de 2011

III Conferência Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres: uma sociedade em movimento.

Ocorreu entre os dias 3 e 5 de Novembro a III Conferência estadual de Políticas Públicas para as mulheres, realizada no SESC de Aracuz, com o objetivo de discutir e elaborar políticas públicas voltadas para a construção da igualdade, tendo como perspectiva o fortalecimento da autonomia econômica social, cultural e política das mulheres, contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e o exercício da cidadania da população feminina.



Diversas autoridades estiveram presentes, entre elas a Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, a senadora Ana Rita Esgario e o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.
Aprovou-se a plataforma de políticas para as mulheres visando à construção do I Plano Estadual de Políticas para as mulheres. Essa plataforma tem como base os eixos e ações contidas no II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres que são eles: Autonomia das mulheres e redução da pobreza; enfretamento a todas as formas de violências contra as mulheres; saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos; educação inclusiva, não sexista, não racista, não homofóbica, não lesbofóbica e enfrentamento do racismo, sexismo e da lesbofobia]
Além disso, a Conferência discutiu propostas e elegeu os delegados que representarão o estado na III Conferência Nacional que acontecerá entre os dias 12 e 15 de dezembro em Brasília. A solenidade será prestigiada pela Presidenta Dilma Roussef e também pela ex-presidenta do Chile, Michelle Bachelet, atual diretora da ONU Mulheres.













A III Conferencia Nacional de Políticas Públicas para Mulheres promete ser um espaço de grandes discussões a respeito da formulação de ações que garantam a igualdade de gênero no Brasil e também de pressão política para expansão dos recursos aplicados nessas áreas e para manutenção da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres com status de Ministério, condição que sofre ameaças segundo o noticiário político.
 Os primeiros imigrantes, discriminados e enganados por não falar português, preferiam se trancar em suas casas
Edir Marli Foeger
O preconceito racial afeta a todos. O racismo é a crença existente dentro do ser humano que se considera superior a outro grupo, fazendo com que haja a discriminação.
O racismo existente na sociedade é a persistência de ideias do passado que subdivide a raça humana em piores e melhores, essa concepção adquirida ao longo do tempo é ensinada através da relação de poder e de dominação que um grupo exerce sobre o outro. Tal ideia sobrevive na atualidade enquanto fruto da ignorância.
Orgulho pomerano. Várias tradições pomeranas têm sido mantidas ao longo do tempo. A principal forma de manter a cultura está sendo a língua que é passada de geração em geração, também é o caso da culinária de pratos típicos, como a sopa de pêssego, e o milhabraut (pão), os grupos de danças e bandas que fazem parte da Pommerfest, realizada na primeira semana de setembro em Melgaço Domingos Martins. "Essa valorização aconteceu da década de 80 para cá. Antes, nós não percebíamos a riqueza das nossas tradições", diz Hilda Braun, ex-professora.
O orgulho pomerano é bem recente. Vinte anos atrás, o termo "pomerano" era pejorativo, usado como sinônimo de gente tacanha, rude e grosseira. Isolados entre as montanhas os pomeranos se escondiam dentro de casa ao avistar gente estranha. Tinham medo porque não falavam o português e ainda hoje encontramos cidadãos pomeranos que não falam o português na comunidade. Outra razão de serem fechados ocorre devido a permanência das lembranças da expulsão de suas terras. Essa maneira de ser do pomerano levou-os a serem discriminados durante muito tempo. "Sofremos uma espécie de racismo de pele branca", define Ismael Tressmann. Hoje, toda forma de preconceito foi condenada pelo tempo: os pomerânios casam-se com pessoas de diferentes etnias, alemães, italianos e afrodescendentes, embora tenham suas preferências pelos próprios pomeranos. Percebe-se que existe um contato maior entre os pomeranos e outras etnias no trabalho e convívio social.
Manter a tradição não é a única dificuldade da cultura pomerana. Por terem uma pele branca e a grande maioria das famílias trabalharem em lavouras onde o sol os castiga sofrem com o câncer de pele. Cerca de 90 por centro dos examinados recentemente pela Universidade Federal do Espírito Santo e pela Associação Albergue Martim Lutero acusavam fotodermatoses, lesões que podem se transformar num câncer de pele se não for tratado.
A intoxicação por agrotóxicos que atacam o sistema nervoso central é outro grave problema que ainda os atinge, apesar da conscientização realizada pelas igrejas e escolas.
Aos poucos se percebe a inserção dos pomeranos na vida social, este fator está sendo adquirida graças ao acesso a educação, pois visualizamos mudanças nas comunidades pomeranas com a intervenção da igreja e eles próprios sentem a necessidades de buscar a escolarização para seus filhos, pelo fato de até pouco tempo atrás o camponês pomerano não considerar os estudos importantes para o seu dia a dia no campo.



Depoimento de um Negro que vive há 26 anos entre os pomeranos de Melgaço
                                                                             Edir Marli Föeger
Eu vim para cá através do meu irmão que trabalhava aqui, gostei muito do lugar, também gostava de jogar bola, logo fiz amizades.
Já ocorreram várias situações onde as pessoas me olhavam diferente, e faziam comentários, por estranhar a minha cor. Lembro da época quando cheguei aqui tinha um senhor que tinha terra perto onde eu tava ficando, ele dizia que não dava serviço para o preto, depois de um tempo, quando viu que eu trabalhava muito, ele me procurou pra trabalhar pra ele.
Outro coisa que lembro que aconteceu num dia que estava na casa de um amigo, aí chegou um senhor pra convidar ele para o casamento, quando saiu ele disse em pomerano “Kai schuat mit brinha” (não trazer preto junto) e eu entendi o que ele disse, eu já aprendi um pouco pela convivência, e eu respondi a ele “não se preocupe, gosto muito daqui, das festa, mas eu não vou desconvidado”.
Outra situação que aconteceu foi quando fui convidado pelo senhor XXXXX para o casamento de bodas de prata dele, eu fiquei feliz e fui no casamento, quando cheguei lá fui cumprimentar o casal, a esposa dele, que não me conhecia, chamou ele de lado e disse: “pra que você convidou esse homem preto pra vir aqui na nossa festa, ele vai arrumar confusão e problema pra gente”. Tempos depois comprei terra perto da casa deles e agora ela se arrepende do que ela disse no dia.
Isso foram coisas que aconteceram comigo. Pode até ser que isso seja preconceito, mas eu não levo isso como um preconceito que eles têm por mim, eu não tenho muito estudo, eu sei que os negros já sofreram muito, mas eu sempre me dei bem aqui. Já ouvi muitos negros falarem que não ficam aqui no meio dos pomeranos eles dizem que pomerano não gosta de preto, porém é o contrário, é só conquistar a confiança e ter respeito.
As vezes vou em algumas festas aqui dos pomeranos e só tem eu de negro, as pessoas olham muito pra mim, mas eu não ligo eu gosto dos pomeranos, não acho que sou discriminado, sempre tive respeito e todos me respeitam, consegui fazer uma grande amizade com esse povo.
A questão de ficar desconfiado acho que é normal, hoje todos nós devemos ficar desconfiado de pessoas estranhas, o mundo que a gente vive é muito difícil.
                                                                                                     Edson (Negão)
Durante o depoimento observei que ele se sentiu importante, valorizado em poder contar parte de sua história.

Tanto os negros como os pomeranos viveram durante muito tempo excluído de direitos da igualdade de participação do desenvolvimento geral da sociedade. Ambos os grupos permanecem as cicatrizes do passado. Nos pomeranos permanecem os tempos de guerra que sofreram em sua terra natal e toda a dificuldade que passaram no início que fez com que o próprio grupo durante muito tempo buscou se isolar do resto da sociedade buscando essa proteção entre as montanhas capixabas. Os negros possuem suas cicatrizes enraizadas no período da escravidão, que gerou o preconceito racista na sociedade.
Fica subentendido em sua fala onde considera a importância do respeito entre as diferentes culturas para conquistar uma sociedade mais justa, onde a igualdade de direitos seja garantida apesar das diferenças, assim
o reconhecimento da diferença deve ser construído no sentido da ‘valorização’ e posterior ‘naturalização’ dessa diferença, para que a igualdade subjacente seja ressaltada. (VALENTE. 1995.p.44).
A utilização dessa metodologia promoverá um conhecimento de si e do outro em prol da reconstrução das relações raciais desgastadas pelas diferenças ou divergências étnicas.
A igualdade entre os povos é um passo fundamental para alcançar desenvolvimento econômico da população.
O preconceito racial se manifesta no momento em que as pessoas julgam com base nas características superficiais. Quando não conhecemos um indivíduo bem, começamos a caracterizá-lo, consciente ou inconscientemente, com base no que vemos. Isso ocorre devido à nossa ignorância,  normalmente as opiniões são formadas baseadas em generalizações: "todas as pessoas de tal ou tal raça são. . . consideram que alguns grupos são superiores que outros. Ideias existentes desde o início da formação da sociedade.



Referência:
Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: módulo I / Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andreia Barreto. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.
VALENTE, Ana Lúcia E. F. Proposta metodológica de combate ao racismo nas escolas. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n.93, p.40-50, maio/95.


Continuação das ações práticas
As reflexões realizadas na Especialização de Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça proporcionaram cada vez mais o sentimento de fazer algo em meu trabalho para transformar a concepção preconceituosa e racista que se formou na sociedade. Partindo do pressuposto de que a base para a diminuição da discriminação do preconceito racista e o desenvolvimento da sociedade é adquirida através da educação, venho realizando atividades em sala de aula que sensibilizam os alunos perante certas situações ocorridas na sociedade. Várias ações relevantes para a transformação da mentalidade racista são desenvolvidas, na EMEF Augusto Peter Berthold Pagung, como: leitura de textos que retratem o tema, reflexões e debates relacionando-os com a realidade, entre outras, uma das ações desenvolvidas foi o diário de bordo, onde os alunos se incorporam em um personagem no período da escravidão, e retrataram a luta e o sofrimento dos escravos. Segue abaixo um diário produzido pelos alunos.
Diário de bordo
Em meados do século XVIII, morávamos em Angola, onde tínhamos uma casa simples, mas aconchegante. Muitas vezes a vida era difícil, porém éramos felizes.
Certo dia saí para passear com meus 2 irmãos, num lugar pouco distante da vila, de repente, fomos surpreendidos pelo capitão do mato, que nos amarrou e nos levou ao porto de Luanda, onde estavam vários negros, nos puseram em fila com as mãos amarradas para dentro de um navio negreiro encaminhado-nos para o porão do navio. Foi um momento de aflição se ouvia choros, gritos desesperados por liberdade.
Saímos do porto e o silêncio tomou conta do navio, todos vencidos pelo cansaço e a dor do sofrimento, caíram no sono por algumas horas amontoados um sobre o outro.
No dia seguinte pensei em estar longe daquele sofrimento, porém percebia que tudo era real, o sofrimento aumentava, o espaço era pequeno para acomodar tanta gente, era o início de uma viagem sem volta, onde estávamos perdendo a nossa identidade, nosso lar, família e a nossa Pátria.
Os dias foram se passando e a situação era cada vez pior, o calor excessivo, a comida e a água escassa, a possibilidade de executar a higiene pessoal e coletiva era nula. Essa situação acabou por gerar diversos problemas entre aquela multidão no decorrer da viagem, tornando as pessoas cada vez mais debilitadas.
Numa certa manhã percebi que já havia crianças mortas, me assustei e constatei que haviam sido pisoteados pelos mais fortes. Os homens brancos desceram ao porão, recolheram os corpos e jogaram no mar. Essa foi uma a primeira cena horrível que presenciei. Assim os dias se passavam cenas tristes marcavam nossa memória, o feitor nos reprimia cada vez mais, quando ele chegava todos tremiam, pois algo ruim poderia acontecer.
Mais uma vez fomos surpreendidos por algo que amedrontou a todos nós, uma tempestade, o navio balançava muito, trovões clareavam o porão, pensei que ali fosse nosso fim. Tudo isso parecia uma eternidade. Ao amanhecer, notei um silêncio interrompido por gemidos e choros, observando as pessoas vi que havia mortos espalhados no chão, estes foram estrangulados uns pelos outros, acredito que não tenha sido um ato cruel, mas a tentativa de segurança em meio à tempestade.
A cada dia que passava a saudade aumentava da minha terra, pois a situação também era difícil, mas não se comparava com o sofrimento de agora.
Durante toda a viagem, fomos humilhados, tratados como selvagens e muitos mortos, as lembranças de nosso lar, de pessoas queridas não deixavam a nossa memória.
Dias depois, o feitor nos informou que nossa viagem estava a ter um fim, foi somente o que disse, aumentando ainda mais a nossa angústia e insegurança sem saber o que nos esperava em terra firme. Após alguns dias chegamos ao Rio de Janeiro, Brasil.
De lá partiram conosco para uma praça onde éramos agrupados em gaiolas com cinco pessoas, fomos comprados por um senhor que demonstrava ser rígido e autoritário.
O sofrimento continuava, eu e os outros escravos sofríamos castigos físicos no tronco, além das humilhações emocionais. Eu era uma moça bonita e o senhor da fazenda começou a me assediar. A esposa dele ficou sabendo, ela ficou furiosa mandou quebrar meus dentes, e cortar parte do meu nariz.
Várias noites acabei passando em claro com as lembranças de minha vida na África e desejando que tudo isso tivesse um fim.
 Essa é uma parte de um ciclo onde nós os negros fomos escravizados, tratados como instrumento para realizar o trabalho que movimentava a economia na época não tinha nenhum valor humano.
                                         Andressa, Letícia, Luanna e Lulaira
Neste trabalho houve grande sensibilização por parte dos alunos, pois ao se incorporarem no personagem do período da escravidão, o aluno se aproximou de todo o sofrimento no qual o negro passou, observei tanto nas falas como em algumas produções que este trabalho ajudou-os adquirir um pensamento mais crítico sobre o preconceito racista existente na sociedade. Outra questão observada como ponto positivo das ações desenvolvidas em sala foi no momento da avaliação escrita, onde obtivemos um bom resultado, pois ao estudar o tema não foram realizadas apenas as leituras de textos e exercícios de fixação, partimos para a reflexões de situações ocorridas na realidade.
Sabe-se que a escola tem uma função importante no sucesso das crianças, negras e brancas, para a formação do ser cidadãos(ãs). Assim entende-se que a escola precisa formar sujeitos com suporte para enfrentar a discriminação.
                                                            
                                                                                          Edir Marli Föeger

domingo, 9 de outubro de 2011

Gênero: Identidade e desigualdade

Diva Aparecida Curbani Araujo
O entendimento da categoria gênero é diferente em cada cultura e conjuntura. Na cultura ocidental, as diferenças do sexo biológico é que distingue homem de mulher, e dentro deste contexto foi concebida uma hierarquia entre o masculino e o feminino. No século XIX abriu-se o leque de explicações sobre os padrões de comportamento através de pesquisas científicas que nortearam o gênero como base de análise das diferenças e posições sociais ocupadas por homens e mulheres.
A percepção de cada indivíduo na identificação com o masculino e o feminino é uma construção vivida nas próprias experiências de forma muitas vezes contraditórias e fora das convenções sociais e culturais sobre sexo e sexualidade.
Existem duas posições no debate teórico, uma é a posição do essencialismo que classifica quem nasce com o sexo fêmea de mulher e homem quem nasce com o sexo masculino. A outra posição é a do construtivismo social, neste caso, homens e mulheres são protagonistas de sua sexualidade.
O sexo por sua vez refere-se às formas físicas anatômicas que distinguem o homem da mulher por seus órgãos genitais. As relações sociais, no entanto, são desenhadas por mecanismos culturais que imputam a identidade de pertencimento aos espaços de vivência pela diferença biológica do sexo.
A relação entre sexo e personalidade é refletida pela cultura onde se vive, as mulheres são estimuladas desde cedo a gostarem do que é classificado como feminino, ou seja, ser dócil, gostar de bonecas e de brincadeiras de casinha. O homem é estimulado a ser agressivo, a não ter medo e a mostrar interesse por brincadeiras com carrinhos, gostar de cores azuis, etc.
Na convivência social existe um acordo tático nem sempre verbalizado entre o poder do masculino e a subserviência do feminino. A diferença sexual é apropriada para designar o espaço permitido à mulher e ao homem seja na esfera pública ou privada.
Estudos apontam que é na reprodução feminina que se dá a origem da desigualdade de gênero, é a partir deste aspecto que se reproduzem culturalmente atribuições entre os sexos, para a “mãe” é esperado comportamentos maternais e responsabilidades domésticas, para o homem o comportamento de chefia e de provedor da família. Outros fatores de reprodução da desigualdade aprofundam a distância, como o recorte por classe, por raça e orientação sexual.
Apesar da superioridade atribuída aos homens a classificação de gênero também os prejudica no sentido de que são construídos papéis sociais ao homem enquanto provedor da família obrigando estes a muito cedo abandonarem as escolas. A divisão sexual do trabalho, fator de discriminação para a mulher, também reflete negativamente para o homem em situações de trabalhos tidos como de baixa renda e de grande esforço físico.
Considerando a assimetria de gênero, a relação de poder entre homem e mulher, o movimento feminista denuncia que o gênero tem servido para classificar a capacidade intelectual da mulher, atribuindo aptidões das ciências exatas, como física, matemática para os homens e das ciências humanas como próprias para as mulheres.
No espaço privado, o uso da pílula anticoncepcional permitiu à mulher o comando sobre sua reprodução e atividade sexual, o que já representou um ganho enorme sobre as relações de hierarquia de gênero, no entanto, a divisão das atividades entre trabalho remunerado e trabalho doméstico ainda gera uma sobrecarga para a mulher e evidencia as relações masculinas de poder.
A dinâmica conjugal e familiar vem sendo transformada com a redução da fecundidade e a participação da mulher no mercado de trabalho, o que não resolveu os problemas da discriminação e da desvantagem na remuneração. Os homens ocupam a maioria dos cargos com remuneração acima de um salário mínimo enquanto que a ocupação feminina se concentra nas funções com renda de meio à um salário mínimo.  A partir dessa concepção, no espaço público criou-se uma limitação de inserção, valorização e valoração do tralhado executado pela mulher.
O conhecimento dos dados sobre a ocupação da mulher em especial da mulher negra no Brasil, abre o entendimento para a difícil mobilidade social nos setores empregatícios e que, no caso da mulher negra, esbarra na baixa escolarização em relação às mulheres brancas.
Não bastassem tais segregações, o cenário que envolve a mulher é somado pela violência que ainda é reproduzida principalmente no meio chamado de “doméstico”, ambiente que se apresenta inviolável e onde ocorrem os inúmeros casos de agressões físicas, verbal, psicológica, moral e patrimonial. Subjugada, a mulher é vítima não apenas de seu agressor direto, mas também do preconceito social construído a partir da referência machista.
A convivência igualitária entre os sexos é um dos pilares para o desenvolvimento econômico de um país e a igualdade de gênero é um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). As relações de poder entre os sexos e o preconceito são assuntos que precisam ser dialogados em todos os espaços possíveis, em ambientes como o das escolas, o enfoque oportunizará a consciência de novos cidadãos e de uma nova geração que reconheça e reproduza a igualdade, a tolerância e o respeito.
A autonomia da mulher se efetivará a partir da ocupação e participação nos espaços de decisão, nas instâncias de controle como conselhos de direitos, na política, na educação, nos espaços culturais, nas instâncias judiciais, no trabalho e em todas as oportunidades de representação e visibilidade combatendo todas as formas de violência e segregação de gênero.
As conquistas alcançadas pela mulher brasileira é fruto de intensa mobilização da sociedade e da opinião pública, não é uma luta apenas para a conquista e garantia de direitos, sobretudo, é uma luta ideológica, contra as históricas e culturais projeções feitas daquilo que é ser mulher. A reprodução dos corpos-dóceis na sociedade é a mais pura evidência de que ainda há um longo caminho a percorrer até que as desigualdades de raça e gênero alcancem a realidade da valorização do capital humano.
Referências:
Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: / Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andreia Barreto. – Rio de Janeiro : CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ações práticas
Os estudos realizados na Especialização de Gestão de Políticas Públicas em Raça e Gênero proporcionaram reflexões sobre as desigualdades de gênero existente na comunidade. Assim entendo que é de responsabilidade de cada um de nós contribuir para transformação da mentalidade que provoca a desigualdade de gênero existente em nossa sociedade.
Como a proposta de avaliação dos fichamentos solicitava ações que poderiam ser realizados para diminuir ou acabar com as desigualdades, foram elaboradas várias ações relevantes para a transformação da mentalidade que produz a desigualdades de gênero. Portanto, resolvi sair da teoria e realizar a prática de algumas ações propostas em minha área de trabalho. A turma escolhida foi a da 6ª série A, na EMEF Augusto Peter Berthold Pagung, onde foram lidos textos que retratassem o tema, em seguida debatidos e confrontado com a realidade, neste trabalho houve grande interesse por parte dos alunos, pois as reflexões do seu cotidiano serviram a eles para pensar criticamente sobre as desigualdades que ocorrem próximo a eles e suas conseqüências, em vários momentos, os próprios alunos relataram situações de discriminação sofridas pelas mulheres que eles já haviam presenciado. Na fala de um aluno se percebe a sua indignação “Eu já vi meu vizinho agredindo a sua própria mulher e seus filhos diversas vezes. ...tem noites ela precisa sair de casa na madrugada para não apanhar, não sei porque não denuncia, não é falta de informação, já foi polícia na casa deles, mas a mulher não quis fazer denuncia. As mulheres precisam ter mais atitude, não depender do homem, ter seu próprio sustento.”
Considerando, que eles são a nova geração de pessoas da comunidade, esta ação é um caminho para a transformação da concepção machista constituída ao longo do tempo na comunidade pomerana. Abaixo segue o resultado de algumas produções feitas pelos alunos neste trabalho de prática em sala de aula.

Igualdade de Gênero
Todo cidadão tem seus direitos
Para usufruir do desenvolvimento da sociedade
Mas a realidade mostra que os direitos não estão garantidos a todos
Mulheres, pobres, negros,
Ou outros grupos menos favorecidos
São excluídos
É preciso buscar a igualdade.

Infelizmente a nossa sociedade
É formada pela diferença que discrimina ao menos favorecido
Onde as mulheres são o escudo da violência
E seu trabalho que é tão importante para o desenvolvimento
Tornou-se um ato sem reconhecimento.

A mulher realiza dupla, tripla jornada de trabalho
E em muitos casos sofrem agressões físicas e emocionais
Vivem sem direitos,
Sem independência,
E sem igualdade garantida
Precisamos mudar essa realidade
Não podemos continuar vivendo assim
Com essas desigualdades
Constituída dentro da sociedade.

                  Andressa, Jéssica e Juliana (6ª série)

            Mulher
Sabemos da importância de mulher na sociedade
Mas ao mesmo tempo é tão discriminada
Seus direitos violados
Sua vida sacrificada
Pelo machismo constituído na sociedade.
Sua jornada de trabalho é extensa
É a dona de muitas profissões
E tantas vezes maltratada
Em sua própria casa
Mas ela vem vencendo barreiras
Mostrando a sua importância
Lutando pelos seus direitos
De tal sonhada igualdade.

     Daniela, Mikael, Luanna e Lulaira (6ª série)


Mulher
A nossa realidade mostra
Mulheres se casando novas
Com o desejo de receber carinho, aconchego...
Além de tudo achando que assim serão livres
Depois de algum tempo vem a decepção
De viver na submissão
Pior ainda quando existe a agressão
As mulheres não são formadas
Para sua independência
Por medo se calam
A informação não chega a elas.
Esta é nossa sociedade
Que precisa se sensibilizar
Pelo grito da igualdade.

                    Micael Machado Thiengo

Trabalho realizado pela professora Edir Marli Föeger 

Feminismo, Políticas Públicas e a construção da igualdade

Edir Marli Föeger

Devido a sua grande extensão territorial, o Brasil apresenta uma vasta diversidade cultural, com grandes diferenças e desigualdades. A diferença não é uma marca do sujeito, mas sim uma marca constituída socialmente, e se estabeleceu como uma forma de exclusão, no entanto o ser diferente em muitos casos significa ser excluído. Reconhecer que somos diferentes para estabelecer a existência de uma diversidade cultural no Brasil, não é suficiente para combater o preconceito e a discriminação constituída em nossa sociedade.

Desde o início da formação da população brasileira sempre houve a marca profunda de desigualdade social, onde o branco determinou-se superior a outros povos, e a existência da diferença de gênero na qual o homem na maioria das vezes demonstra-se superior a mulher.

A linha de pensamento impregnada nos indivíduos é de que há uma grande diferença entre homens e mulheres, onde os sujeitos são destinados a ter  atitudes, condutas, emoções e vocações de acordo com o que a cultura construiu historicamente.

Nesse sentido os homens e as mulheres são modelados conforme a socialização de cada grupo, sendo que o ser humano necessita dessa socialização, as diferenças atribuídas na sociedade aos homens e às mulheres produzem e reforçam relações de poder frequentemente designando mulheres a uma posição inferior.

O Movimento Feminista possibilitou a compreensão de determinadas desigualdades de gênero levando as questões relacionadas para serem questionadas, discutidas e transformadas na sociedade. O feminismo se constrói, a partir das resistências, derrotas e conquistas que compõem a História da Mulher e se coloca como um movimento vivo, cujas lutas e estratégias estão em permanente processo de emancipação da mulher. Na busca da superação das relações hierárquicas entre homens e mulheres, alinhando-se a todos os movimentos que lutam contra as diferentes formas de discriminação.

Os Direitos Humanos já estão reconhecidos em leis nacionais e documentos internacionais, porém é preciso trabalhar o respeito a cada indivíduo para que tais direitos sejam garantidos a todos os cidadãos.

A expectativa da reprodução destinada às mulheres contribui  para a desigualdade entre homens e mulheres, pois diminui as possibilidades de adquirirem estabilidade no campo do trabalho. Essa desigualdade é gerada pelo fato de que o processo da reprodução engloba várias tarefas, ou seja, “o cuidado com a prole é sempre destinado às mulheres, mas este se situa para além do papel propriamente reprodutivo” (MOD. 02_UNID. 02, texto 02, p.01).

O modo como homens e mulheres se comportam em sociedade corresponde a um intenso aprendizado sociocultural que nos ensina a agir conforme as prescrições de cada gênero. Onde se constrói “uma hierarquia moral que estabelece posições sociais, deveres e obrigações próprias a cada um, conforme a inserção de gênero e de geração” (MOD. 02_UNID. 02, texto 04, p.01).

A dominação masculina entende-se o exercício do poder pelos homens sobre as mulheres, essa dominação está tão enraizada na sociedade desde o princípio e está sendo passado de geração em geração. Para reverter essa situação o texto 04 da unidade 02 trás as palavras de Bourdieu (1999) que levanta explicitamente a questão da hierarquia sexual, lembrando a necessidade de uma ação coletiva de resistência feminina com o objetivo de impor reformas jurídicas e políticas capazes de alterar o estado atual da relação de forças – material e simbólica – entre os sexos. 

A nossa sociedade trás o machismo inculcado nos costumes e valores herdados nas famílias, essa herança faz com que a formação dos indivíduos ocorre dentro de moldes conservadores, onde vêem a mulher muitas vezes como ineficientes para atuar em alguns setores ou assumir determinadas responsabilidades. É a famosa submissão da mulher. A sociedade machista pode ter consequências na qual as mulheres são vítimas de ameaças, insultos, xingamentos, humilhações e até mesmo morte.

No século XVIII, o desenvolvimento econômico e a população passaram a ser discutidas com as transformações econômicas da época, a fim de acumulação do capital, esse processo trouxe novas relações entre homens e mulheres na sociedade, apesar de que no pensamento econômico o enfoque não eram as desigualdades de gênero e sim o aumento da produção.

A igualdade de gênero é um passo fundamental para alcançar desenvolvimento econômico da população, os debates sobre desenvolvimento buscou avaliar as desigualdades entre homens e mulheres e suas conseqüências no crescimento da sociedade.
A equidade de gênero é considerada pelo Fundo de População das Nações Unidas um direito humano, sendo o empoderamento das mulheres ferramenta indispensável para promover o desenvolvimento e a redução da pobreza (MOD. 02_UNID. 03, texto 01, p.03). 

Assim se reconhece que a igualdade de gênero é importante para o desenvolvimento da sociedade. Nas últimas décadas várias mudanças significativas ocorreram na sociedade, às mulheres adquiriram maiores níveis da educação e de participação no mercado de trabalho.

As leis brasileiras garantem à igualdade e a equidade de gênero, porém no dia a dia continua ocorrendo discriminações de gênero e raça no mundo do trabalho, na esfera política ou privada. A informação, a sensibilização, a competência e sobre tudo boa vontade pessoal da população em relação ao problema precisa ser incorporada para que a igualdade ocorra de fato.
Diversas são as razões que levam as mulheres a desenvolver estratégias de luta, em diferentes espaços e épocas engajando-se para as articulações e ações na esfera pública, a fim de conquistar seus direitos de igualdade.
Para ocorrer a organização dos movimentos é preciso de cidadãos ativos e engajados pelo mesmo objetivo de reivindicar políticas que assegurem os direitos de igualdade para cada cidadão, independente do gênero, raça, classe social ou opção sexual.

Nesse sentido o movimento de mulheres é uma organização social que atua para transformar a subordinação das mulheres constituída na formação social. Paulo Freire dizia que a emancipação de um setor oprimido somente virá por obra desse mesmo setor oprimido. Assim os movimentos feministas buscam a igualdade, autonomia e respeito dentro da sociedade.

O movimento social feminista questiona as hierarquias existentes, busca “desconstruir concepções culturais, comportamentos e práticas sociais, desnaturalizar o modo como eram organizadas as relações entre homens e mulheres em distintas sociedades” (MOD. 02_UNID. 04 p.195).

A tomada de consciência da opressão feminina ocorreu através da análise das vidas cotidianas, surgindo alianças políticas, ampliação do diálogo com outros segmentos da sociedade.

Os movimentos feministas participaram fortemente na transformação social e política da modernidade. Mas apesar dos avanços conquistados, ainda vivemos contradições sociais e econômicas que provocam as desigualdades de gênero e raça e a subordinação das mulheres. Este quadro evidencia que há muitos desafios a serem enfrentados pelas mulheres.

1ª Conferência Municipal de Políticas para Mulheres de Domingos Martins


No dia 12 de Setembro ocorreu no auditório comunitário de Ponto Alto, a 1ª Conferência Municipal de Políticas para Mulheres do município de Domingos Martins, organizada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SECMADS), com o objetivo de discutir a elaboração de políticas públicas voltadas à construção da igualdade, tendo como perspectiva o fortalecimento da autonomia econômica, social, cultural e política das mulheres, contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para o exercício pleno da cidadania.

O temário da Conferência Municipal foi o mesmo a ser debatido nas Conferências estaduais e nacional, constituído pelos seguintes pontos: análise da realidade Nacional, Estadual e Municipal, social, econômica, política, cultural e dos desafios para a construção da igualdade de gênero; avaliação e aprimoramento das ações e políticas que integram o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e definição de prioridades e; análise e aprovação da plataforma de políticas para as mulheres visando à construção do Plano Municipal de Políticas para as mulheres, contribuindo também na construção do Plano estadual de Políticas para as Mulheres.

A 1ª Conferência Municipal de Políticas para Mulheres de Domingos Martins foi aberta pela Secretária Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Daiane Köeler, a qual enfatizou a importância desse espaço de participação, deliberação e discussão de políticas públicas que contribuam para melhoria da qualidade de vida das mulheres martinenses e brasileiras.

Após a aprovação do Regimento interno pela plenária, deu-se início à palestra ministrada pela Coordenadora de Políticas para as Mulheres da Secretaria estadual e Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos (SEASTDH), a Sra. Laudicéia Andrade, cuja fala destacou as diversas formas de preconceitos e exploração em relação às mulheres, que se manifestam de variadas formas no cotidiano familiar e da sociedade.

A Conferência contou com a participação de aproximadamente 50 mulheres, representando majoritariamente instituições da sociedade civil, as quais aproveitaram o espaço para discutir as dificuldades no interior da família e da sociedade e propor a adoção de medidas capazes de assegurar mais igualdade e respeito para com as mulheres. O grande interesse das participantes tornou os debates  dinâmicos e produtivos.


A realização das Conferências mostra os avanços obtidos na luta pelo reconhecimento dos direitos das mulheres e fim da desigualdade de gênero. Além disso, revela o anseio delas em superar esse processo histórico de discriminação e subalternidade e a relevância desses espaços públicos de debates e deliberação na construção de uma sociedade mais justa e democrática.


A Conferência também contou com a apresentação cultural dos alunos da oficina de violão ofertada pelo Centro de Referência da Assistência Social de Ponto Alto.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Violência de gênero do município de Domingos Martins

A violência de gênero constitui-se foco importante para questionamentos e discussões em nossa sociedade, sendo caracterizado por sofrimento, revoltas e trauma. Por essa razão se busca transformar as práticas sociais na atualidade.
A violência acontece porque alguém sofre alguma agressão seja homem ou mulher. Porém normalmente quando se fala em violência de gênero está relacionado à mulher, sendo as mulheres as maiores vítimas da violência. No foco desta problemática, destaca-se a implementação da Lei 11.340/06, a Lei Maria da Penha, a qual define violência doméstica ou familiar contra a mulher como toda ação ou omissão, baseada no gênero, que cause morte, sofrimento físico, sexual ou psicológico dano moral ou patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, da família e em qualquer relação íntima de afeto, em que o agressor conviva ou tenha convivido com a agredida.
Partindo dessa problemática da violência de gênero o gráfico apresenta os dados sobre a violência contra a mulher regida pela Lei Maria da Penha no município de Domingos Martins.
                 Dados fornecidos pelo senhor Luis Paulo Perin – Delegacia de Domingos Martins

Conforme a entrevista realizada com o policial Perin houve uma pequena queda de denúncias no ano vigente comparando com o mesmo período do ano anterior, porém o acrescentou que acredita que essa queda pode ter ocorrido pelo fato de muitas mulheres não terem o conhecimento da Lei Maria da Penha ou pelo medo, acabam não denunciando, relatando que já houve casos aonde as mulheres chegavam fazer as denúncias, mas ao mesmo tempo pedem que o agressor não seja preso.
Apesar das conquistas adquiridas pelas mulheres contra a discriminação o preconceito, a realidade ainda mostra que é preciso de uma maior sensibilização por parte do estado em favor das mulheres. Pois a igualdade se efetivará quando todos tiverem condições de oportunidades que favoreça esse direito.

sábado, 30 de julho de 2011

Os novos movimentos sociais


Willer Tavares Alves

A atuação dos movimentos sociais foi elemento de grande importância nas transformações da realidade política e social de diversos países em todo o mundo. Melhorias na vida do trabalho, conquista de direitos, derrubada de regimes políticos autoritários são exemplos notórios da relevância da articulação dos indivíduos, que rompendo o isolamento e o individualismo, conseguem mobilizar ações com grande capacidade de pressão.

Dentro de uma abordagem clássica esses movimentos sociais estão associados majoritariamente à exploração da força de trabalho e às desigualdades produzidas por ela, o que demandava principalmente a luta por políticas sociais e direitos trabalhistas.

Todavia, a complexificação das relações sociais em virtude do processo de expansão e consolidação capitalista e da globalização, provocaram nas sociedades modernas a necessidade do reconhecimento de novos direitos e de políticas públicas voltadas para o reconhecimento da identidade de determinados grupos sociais chamados de “minorias” (MELUCCI apud BRASIL, 2011).

Esse novo contexto ocasiona o surgimento dos denominados “novos movimentos sociais” que se caracterizam basicamente por possuírem, diferentemente dos antigos movimentos sociais, um modelo teórico baseado na cultura, que concebe os sujeitos como atores sociais e destacam a política como dimensão da vida social. Além disso, é importante relatar que eles refutam a ortodoxia marxista, e busca uma nova forma de fazer política e relacionar-se com o Estado, dispensando o caráter clientelista que marcam as antigas relações. Trava-se agora uma luta pelos direitos sociais. Essa correlação íntima com o poder estatal é substituída pela utilização da mídia e protestos, entre outros meios de pressionar o Estado.  (GOHN, 2007).

Os novos movimentos sociais abrem espaços para atores sociais e culturais que não estavam na cena pública e não tinham visibilidade, como as mulheres, negros, jovens, índios e outros (GONH apud BRASIL 2011).

Gohn destaca também a influência dos movimentos sociais na criação dos Conselhos de políticas públicas originários da Constituição Federal ou mesmo os conselhos comunitários. Esses espaços apresentam grande importância política, pois possibilitam a participação popular nas decisões do Estado, constituindo um forte instrumento de controle social competente para acompanhar todo o ciclo de formação das políticas públicas.

Constituem também um lócus de intensa disputa de interesses presentes no interior da sociedade civil e do Poder Público. Ressalta-se que a composição da sociedade civil é heterogênea, englobando movimentos sociais, ONG’s, representações empresariais, igrejas, os quais estratégias a fim de potencializar sua capacidade de pressão sobre os agentes públicos e influenciar na formação agenda a ser cumprida pelo Estado.

Dessa forma, os movimentos de gênero estão inseridos nessa nova configuração dos movimentos sociais. A sua capacidade de articulação e inserção midiática são essenciais no atendimento de suas demandas, especialmente no que se refere à construção de políticas afirmativas capazes de desconstruir o processo histórico de desvalorização de determinados grupos sociais, a exemplo das mulheres e negros.

Os movimentos sociais têm papel relevante na mobilização da sociedade e no acesso universal aos direitos de cidadania em sua integralidade. A participação social é o caminho para a cidadania e para viabilização de uma redefinição inovadora no cenário político e cultural no Brasil, que assegurará um país mais justo, menos preconceituoso e desigual.

Referências
BRASIL. Políticas Públicas e promoção da Igualdade. Módulo I. Brasília: Secretaria de Políticas para Mulheres, 2010.

GONH, Maria da Glória. Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e Contemporâneos. 6.ed. São Paulo: Loyola, 2007.