domingo, 9 de outubro de 2011

Gênero: Identidade e desigualdade

Diva Aparecida Curbani Araujo
O entendimento da categoria gênero é diferente em cada cultura e conjuntura. Na cultura ocidental, as diferenças do sexo biológico é que distingue homem de mulher, e dentro deste contexto foi concebida uma hierarquia entre o masculino e o feminino. No século XIX abriu-se o leque de explicações sobre os padrões de comportamento através de pesquisas científicas que nortearam o gênero como base de análise das diferenças e posições sociais ocupadas por homens e mulheres.
A percepção de cada indivíduo na identificação com o masculino e o feminino é uma construção vivida nas próprias experiências de forma muitas vezes contraditórias e fora das convenções sociais e culturais sobre sexo e sexualidade.
Existem duas posições no debate teórico, uma é a posição do essencialismo que classifica quem nasce com o sexo fêmea de mulher e homem quem nasce com o sexo masculino. A outra posição é a do construtivismo social, neste caso, homens e mulheres são protagonistas de sua sexualidade.
O sexo por sua vez refere-se às formas físicas anatômicas que distinguem o homem da mulher por seus órgãos genitais. As relações sociais, no entanto, são desenhadas por mecanismos culturais que imputam a identidade de pertencimento aos espaços de vivência pela diferença biológica do sexo.
A relação entre sexo e personalidade é refletida pela cultura onde se vive, as mulheres são estimuladas desde cedo a gostarem do que é classificado como feminino, ou seja, ser dócil, gostar de bonecas e de brincadeiras de casinha. O homem é estimulado a ser agressivo, a não ter medo e a mostrar interesse por brincadeiras com carrinhos, gostar de cores azuis, etc.
Na convivência social existe um acordo tático nem sempre verbalizado entre o poder do masculino e a subserviência do feminino. A diferença sexual é apropriada para designar o espaço permitido à mulher e ao homem seja na esfera pública ou privada.
Estudos apontam que é na reprodução feminina que se dá a origem da desigualdade de gênero, é a partir deste aspecto que se reproduzem culturalmente atribuições entre os sexos, para a “mãe” é esperado comportamentos maternais e responsabilidades domésticas, para o homem o comportamento de chefia e de provedor da família. Outros fatores de reprodução da desigualdade aprofundam a distância, como o recorte por classe, por raça e orientação sexual.
Apesar da superioridade atribuída aos homens a classificação de gênero também os prejudica no sentido de que são construídos papéis sociais ao homem enquanto provedor da família obrigando estes a muito cedo abandonarem as escolas. A divisão sexual do trabalho, fator de discriminação para a mulher, também reflete negativamente para o homem em situações de trabalhos tidos como de baixa renda e de grande esforço físico.
Considerando a assimetria de gênero, a relação de poder entre homem e mulher, o movimento feminista denuncia que o gênero tem servido para classificar a capacidade intelectual da mulher, atribuindo aptidões das ciências exatas, como física, matemática para os homens e das ciências humanas como próprias para as mulheres.
No espaço privado, o uso da pílula anticoncepcional permitiu à mulher o comando sobre sua reprodução e atividade sexual, o que já representou um ganho enorme sobre as relações de hierarquia de gênero, no entanto, a divisão das atividades entre trabalho remunerado e trabalho doméstico ainda gera uma sobrecarga para a mulher e evidencia as relações masculinas de poder.
A dinâmica conjugal e familiar vem sendo transformada com a redução da fecundidade e a participação da mulher no mercado de trabalho, o que não resolveu os problemas da discriminação e da desvantagem na remuneração. Os homens ocupam a maioria dos cargos com remuneração acima de um salário mínimo enquanto que a ocupação feminina se concentra nas funções com renda de meio à um salário mínimo.  A partir dessa concepção, no espaço público criou-se uma limitação de inserção, valorização e valoração do tralhado executado pela mulher.
O conhecimento dos dados sobre a ocupação da mulher em especial da mulher negra no Brasil, abre o entendimento para a difícil mobilidade social nos setores empregatícios e que, no caso da mulher negra, esbarra na baixa escolarização em relação às mulheres brancas.
Não bastassem tais segregações, o cenário que envolve a mulher é somado pela violência que ainda é reproduzida principalmente no meio chamado de “doméstico”, ambiente que se apresenta inviolável e onde ocorrem os inúmeros casos de agressões físicas, verbal, psicológica, moral e patrimonial. Subjugada, a mulher é vítima não apenas de seu agressor direto, mas também do preconceito social construído a partir da referência machista.
A convivência igualitária entre os sexos é um dos pilares para o desenvolvimento econômico de um país e a igualdade de gênero é um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). As relações de poder entre os sexos e o preconceito são assuntos que precisam ser dialogados em todos os espaços possíveis, em ambientes como o das escolas, o enfoque oportunizará a consciência de novos cidadãos e de uma nova geração que reconheça e reproduza a igualdade, a tolerância e o respeito.
A autonomia da mulher se efetivará a partir da ocupação e participação nos espaços de decisão, nas instâncias de controle como conselhos de direitos, na política, na educação, nos espaços culturais, nas instâncias judiciais, no trabalho e em todas as oportunidades de representação e visibilidade combatendo todas as formas de violência e segregação de gênero.
As conquistas alcançadas pela mulher brasileira é fruto de intensa mobilização da sociedade e da opinião pública, não é uma luta apenas para a conquista e garantia de direitos, sobretudo, é uma luta ideológica, contra as históricas e culturais projeções feitas daquilo que é ser mulher. A reprodução dos corpos-dóceis na sociedade é a mais pura evidência de que ainda há um longo caminho a percorrer até que as desigualdades de raça e gênero alcancem a realidade da valorização do capital humano.
Referências:
Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: / Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andreia Barreto. – Rio de Janeiro : CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.

Um comentário:

  1. Olá grupo!
    Muito bom o blog. Amei a entrevista com o negro na comunidade pomerana e o trabalho dos meus alunos no Polivalente. Vocês são muito bons.
    Abraços
    Fernanda Reinholtz

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