domingo, 11 de dezembro de 2011

Continuação das ações práticas
As reflexões realizadas na Especialização de Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça proporcionaram cada vez mais o sentimento de fazer algo em meu trabalho para transformar a concepção preconceituosa e racista que se formou na sociedade. Partindo do pressuposto de que a base para a diminuição da discriminação do preconceito racista e o desenvolvimento da sociedade é adquirida através da educação, venho realizando atividades em sala de aula que sensibilizam os alunos perante certas situações ocorridas na sociedade. Várias ações relevantes para a transformação da mentalidade racista são desenvolvidas, na EMEF Augusto Peter Berthold Pagung, como: leitura de textos que retratem o tema, reflexões e debates relacionando-os com a realidade, entre outras, uma das ações desenvolvidas foi o diário de bordo, onde os alunos se incorporam em um personagem no período da escravidão, e retrataram a luta e o sofrimento dos escravos. Segue abaixo um diário produzido pelos alunos.
Diário de bordo
Em meados do século XVIII, morávamos em Angola, onde tínhamos uma casa simples, mas aconchegante. Muitas vezes a vida era difícil, porém éramos felizes.
Certo dia saí para passear com meus 2 irmãos, num lugar pouco distante da vila, de repente, fomos surpreendidos pelo capitão do mato, que nos amarrou e nos levou ao porto de Luanda, onde estavam vários negros, nos puseram em fila com as mãos amarradas para dentro de um navio negreiro encaminhado-nos para o porão do navio. Foi um momento de aflição se ouvia choros, gritos desesperados por liberdade.
Saímos do porto e o silêncio tomou conta do navio, todos vencidos pelo cansaço e a dor do sofrimento, caíram no sono por algumas horas amontoados um sobre o outro.
No dia seguinte pensei em estar longe daquele sofrimento, porém percebia que tudo era real, o sofrimento aumentava, o espaço era pequeno para acomodar tanta gente, era o início de uma viagem sem volta, onde estávamos perdendo a nossa identidade, nosso lar, família e a nossa Pátria.
Os dias foram se passando e a situação era cada vez pior, o calor excessivo, a comida e a água escassa, a possibilidade de executar a higiene pessoal e coletiva era nula. Essa situação acabou por gerar diversos problemas entre aquela multidão no decorrer da viagem, tornando as pessoas cada vez mais debilitadas.
Numa certa manhã percebi que já havia crianças mortas, me assustei e constatei que haviam sido pisoteados pelos mais fortes. Os homens brancos desceram ao porão, recolheram os corpos e jogaram no mar. Essa foi uma a primeira cena horrível que presenciei. Assim os dias se passavam cenas tristes marcavam nossa memória, o feitor nos reprimia cada vez mais, quando ele chegava todos tremiam, pois algo ruim poderia acontecer.
Mais uma vez fomos surpreendidos por algo que amedrontou a todos nós, uma tempestade, o navio balançava muito, trovões clareavam o porão, pensei que ali fosse nosso fim. Tudo isso parecia uma eternidade. Ao amanhecer, notei um silêncio interrompido por gemidos e choros, observando as pessoas vi que havia mortos espalhados no chão, estes foram estrangulados uns pelos outros, acredito que não tenha sido um ato cruel, mas a tentativa de segurança em meio à tempestade.
A cada dia que passava a saudade aumentava da minha terra, pois a situação também era difícil, mas não se comparava com o sofrimento de agora.
Durante toda a viagem, fomos humilhados, tratados como selvagens e muitos mortos, as lembranças de nosso lar, de pessoas queridas não deixavam a nossa memória.
Dias depois, o feitor nos informou que nossa viagem estava a ter um fim, foi somente o que disse, aumentando ainda mais a nossa angústia e insegurança sem saber o que nos esperava em terra firme. Após alguns dias chegamos ao Rio de Janeiro, Brasil.
De lá partiram conosco para uma praça onde éramos agrupados em gaiolas com cinco pessoas, fomos comprados por um senhor que demonstrava ser rígido e autoritário.
O sofrimento continuava, eu e os outros escravos sofríamos castigos físicos no tronco, além das humilhações emocionais. Eu era uma moça bonita e o senhor da fazenda começou a me assediar. A esposa dele ficou sabendo, ela ficou furiosa mandou quebrar meus dentes, e cortar parte do meu nariz.
Várias noites acabei passando em claro com as lembranças de minha vida na África e desejando que tudo isso tivesse um fim.
 Essa é uma parte de um ciclo onde nós os negros fomos escravizados, tratados como instrumento para realizar o trabalho que movimentava a economia na época não tinha nenhum valor humano.
                                         Andressa, Letícia, Luanna e Lulaira
Neste trabalho houve grande sensibilização por parte dos alunos, pois ao se incorporarem no personagem do período da escravidão, o aluno se aproximou de todo o sofrimento no qual o negro passou, observei tanto nas falas como em algumas produções que este trabalho ajudou-os adquirir um pensamento mais crítico sobre o preconceito racista existente na sociedade. Outra questão observada como ponto positivo das ações desenvolvidas em sala foi no momento da avaliação escrita, onde obtivemos um bom resultado, pois ao estudar o tema não foram realizadas apenas as leituras de textos e exercícios de fixação, partimos para a reflexões de situações ocorridas na realidade.
Sabe-se que a escola tem uma função importante no sucesso das crianças, negras e brancas, para a formação do ser cidadãos(ãs). Assim entende-se que a escola precisa formar sujeitos com suporte para enfrentar a discriminação.
                                                            
                                                                                          Edir Marli Föeger

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